Macroalgas
brasileiras apresentam potencial biotecnológico
Pesquisa
do Instituto de Química (IQ) da USP identifica
espécie de Macroalga Brasileira que pode ser utilizada na
produção de biodiesel, além de
alimentos, rações, fertilizantes e pigmentos. A
pesquisa foi coordenada pela bioquímica Aline Paternostro e
orientada pelo professor Pio Colepicolo Neto, do IQ
Por Júlio
Bernardes *
O
potencial biotecnológico de 25 espécies de
macroalgas coletadas na costa brasileira é mostrado em
pesquisa do Instituto de Química (IQ) da USP. No estudo da
bioquímica Aline Paternostro Martins foram identificadas as
espécies com maior potencial para a
produção de biodiesel (inclusive desenvolvendo
formas de cultivo), suplementos alimentares e com atividade
biológica. A pesquisa foi orientada pelo professor Pio
Colepicolo Neto, do IQ.
Foram estudadas 14 espécies de macroalgas pertencentes
à divisão Rhodophyta, 4 espécies
pertencentes à divisão Chlorophyta e 7
espécies pertencentes à divisão
Heterokontophyta. As amostras utilizadas na pesquisa foram coletadas em
Ubatuba (litoral norte de São Paulo) e Natal (Rio Grande do
Norte), porém as espécies analisadas no estudo
podem ser encontradas em toda a extensão do litoral
brasileiro. “Na pesquisa, foi selecionada uma
espécie dentre as várias com maior potencial para
a produção de biodiesel e estabelecido o seu
cultivo em laboratório”, diz Aline. “A
engenharia bioquímica, por meio da
manipulação de alguns fatores
abióticos durante o seu cultivo, foi utilizada para aumentar
a taxa fotossintética do organismo e desviar o seu
metabolismo para a biossíntese de lipídeos,
promovendo o aumento da produção de
óleo”.
De acordo com a bioquímica, ao estudar uma macroalga para
avaliar o seu potencial como fonte de biodiesel, além da
quantidade e qualidade dos ácidos graxos, é
interessante que outras características sejam observadas.
“Entre elas, estão a fotossíntese e
crescimento, pois além de ter alto teor de
lipídeos e um perfil adequado de ácidos graxos, o
organismo deve apresentar um
bom desenvolvimento e
crescimento”, conta. “Também
é preciso avaliar o conteúdo de
proteínas, pigmentos e carboidratos, uma vez que a biomassa
restante pode ser utilizada para a síntese de coprodutos,
como alimentos, rações, fertilizantes, pigmentos,
entre outros, agregando valor econômico à
espécie”.
Com o conhecimento da composição
bioquímica das macroalgas, espécies que
não possuírem um perfil bom para o biodiesel,
podem ser aproveitadas para outras finalidades como, por exemplo, para
a alimentação rica em nutracêuticos,
que são alimentos, ou parte de alimentos, que proporcionam
benefícios à saúde, como a
prevenção e tratamento de doenças,
destacando-se, nesse caso, os ácidos graxos da
família do omega-3.
Óleo
A diversidade bioquímica existente nas macroalgas marinhas
abre uma gama de possibilidades para a sua
utilização para diferentes finalidades.
“As espécies Spatoglossum schroederi e Dictyota
menstrualis apresentaram os maiores valores de ácidos graxos
totais, saturados, monoinsaturados e poliinsaturados, destacando-se
pelo alto conteúdo de ácidos graxos
poliinsaturados e omega-3 e pelo alto conteúdo de
ácidos graxos monoinsaturados, respectivamente”,
diz a bioquímica. “Esse resultado evidencia uma
possível utilização de S.
schroedericomo nutracêutico e de D. menstrualis como fonte de
biodiesel”.
Após a escolha da espécie com potencial para a
produção de biodiesel, estabeleceu-se o seu
cultivo em laboratório e posteriormente avaliou-se os
efeitos do aumento do CO2, em condições de
saturação e limitação de
nitrogênio. “O cultivo foi realizado em
biorreatores, avaliando-se principalmente o crescimento, a
fotossíntese e sua composição
bioquímica, a fim de encontrar
condições de cultivo nas quais a macroalga
apresente alta taxa de crescimento e de fotossíntese e
aumente a biossíntese de lipídeos e
ácidos graxos”, afirma Aline.
“Além disso, o perfil de ácidos graxos
também pode variar em função das
condições de cultivo”.
A Dictyota menstrualis foi a espécie que apresentou as
melhores características para ser utilizada como fonte para
produção de biodiesel. “Entretanto,
quando essa espécie foi cultivada, houve um aumento no seu
teor de ácidos graxos poliinsaturados e omega-3, o que a
torna mais interessante para ser aproveitada como
nutracêutico do que como matéria-prima para a
produção de biodiesel”, diz a
bioquímica. “Apesar da presença de CO2
e nitrogênio no meio terem estimulado a taxa de crescimento e
de fotossíntese, apenas esse último nutriente
teve efeito sobre o conteúdo de ácidos graxos,
estimulando a biossíntese dos ácidos graxos
poliinsaturados e de omega-3”.
Os cultivos em biorreatores foram realizados no Instituto de
Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de
São Paulo, sob a coorientação da
professora Nair Sumie Yokoya..
* Júlio
Bernardes (para a Agência USP de Notícias).
Foto - Macroalga Dictyota menstrualis: maior potencial para
obtenção de óleo (foto: Eliane Marinho
Soriano /
cedida pela pesquisadora)
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